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O Lustre & O Fantasma do Lustre







No salão mãos cochicham,
Dedos timidos afagam-se...
Ariscamente o convite desabrocha,
Flor desenvolta a estampar rostos...
Iluminados pela música,
Dançam ao som do ilustre lustre!...
O prédio e o casebre;
A vila e a cidade;
Os extremos de um cordão envoltos por um só nó de luz!...
E a chama é carregada por ambos;
E a melodia enleva...
... A bela e fera:
São o um ante todos que dizem muito in vazio!...
Candelabro pendente;
Brilho lustrado, riqueza que adorna sem que se veja...
Lampadário dos opostos que se escolhem!...
Uma irradiação, sem muita certeza...
Movem-se pelo mesmo sentir...
Ainda tudo vale a pena!...
Beijo sela a noite de dança, de luz, de brilho, do lustre belo...
Dos ilustres conhecidos!...

(Nadine Granad)


O Fantasma do Lustre
Estávamos todos reunidos na pequena biblioteca de nossa casa. Como era de costume sempre após o jantar fazíamos nossos deveres de escola. Eu, estava às voltas com meus teoremas, minha irmã com sua redação e meu irmão tentando recortar alguma figura para o cartaz de ciências. Ali, entretidos, ouvimos um estalo vindo do alto. Um olhou para o outro e não dissemos nada, apenas balançamos os ombros como que dizendo: que foi? Continuamos concentrados. De repente a luz piscou duas vezes, mas, imediatamente, voltou e ficou normal. Ficamos quietos  novamente.
De repente ouvimos um forte assobio... Aí então não deu para ficar quieto, saímos correndo da sala. Fomos direto à sala de estar onde papai e mamãe estavam dando uma olhadinha no jornal.
- Que foi? perguntaram os dois já de pé tal a pressa com que adentramos a sala.
- Tem um fantasma no lustre dissemos os três quase que gaguejando.
- O quê? disse meu pai.
- É um fantasma no lustre!
Acompanhamos meu pai que levou consigo uma escada. Até ai então não entendíamos porque uma escada. Puxa, ele não tinha medo mesmo.
Subiu nela, vimos que apertava alguma coisa e depois delicadamente pegou algo. Desceu.
- Prontos para ver o fantasma?
Grudamo-nos uns nos outros...
- Primeiro: a lâmpada estava meio solta. Apertei-a e agora não vai mais piscar. E aqui está o fantasma que assobiou para vocês.
Abriu a mão e lá estava um inseto pequenino.
- Papai, o que é isso?
- Uma cigarra meus filhos, e elas  cantam, assoviam!
Ficamos de boca aberta olhando.
- Então não tem fantasma?
- Claro que não.
Voltamos a outra sala e lá meus pais riam do nosso susto.
Puxa e eu que pensava que tinha um fantasma no lustre!
A janela bateu com o vento e, novamente, saímos correndo.
- Foi a janela - dissemos juntamente com as risadas de meus pais.
Sempre que entro numa biblioteca lembro deste fato, olho para os lustres e procuro o fantasma, ou seja, as cigarras.
(Marlene B. Cerviglieri)

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O Tempo



Meus leitores já devem ter percebido que o tempo, com todas suas implicações, é tema recorrente em muitos de meus textos. Ora ele se apresenta em torno de relógios que tentam aprisioná-lo em seus ponteiros e dígitos; ora ele aparece na forma de poesia que o admira em sua perpetuidade e imparcialidade; ora ele é tratado como uma entidade viva que permeia os desvãos de todas as coisas e das atividades humanas. No dia-a-dia o tempo é igual para todos, acomete tudo e todos sem distinção; corrói o metal, degrada o seres vivos, eleva montanhas, seca oceanos e permanece imutável não obstante tencionarmos escravizá-lo colocando rótulos: segundos, minutos, meses, séculos etc. Contudo, é ele que nos escraviza, é um tirano implacável que não se comove com o drama da vida. A tirania do tempo é um fenômeno de nossa era, tão arraigado e presente que raramente pensamos a respeito. Mantemos o tempo em nosso pulso, nas paredes, em locais públicos, torres de igrejas e em todo local que estejamos.
Os relógios os quais decoram o pulso de todas as pessoas, de autoridades a gente comum, podem ter um mecanismo de mola que impulsiona os ponteiros ou um cristal minúsculo que oscila tão precisamente em reação a um impulso elétrico que ele nem adianta ou atrasa mais do que alguns segundos por ano. Os relógios eletrônicos, esses a bateria, são um milagre da tecnologia que passa despercebido; são aparelhos 99,9999 % exatos e ainda assim costumam ser tão baratos que podem ser descartáveis. A história do relógio atual está ligada aos primeiros aparelhos mecânicos para controle do tempo durante a época elisabetana com o propósito da navegação em longas travessias oceânicas.
Antes disso, Galileu, ainda um jovem estudante sentado na catedral de Pisa, ao invés de prestar atenção na missa, notou a oscilação de um grande lustre suspenso. Usando o próprio pulso como cronômetro, Galileu notou que o lustre parecia levar o mesmo tempo para percorrer um grande arco como para percorrer um arco menor. Essa observação lhe sugeriu uma lei: O tempo necessário para que um pêndulo realize uma oscilação independe da amplitude da oscilação. Nasceu aí o conceito do relógio de pêndulo.
Durante a Idade Média e o Renascimento, os mestres relojoeiros eram artesãos de elite e as principais cidades da Europa disputavam seus talentos quando visavam adquirir o símbolo de status de uma torre com relógio. O mais antigo relógio ainda funcionando encontra-se na catedral de Salisbury na Inglaterra, está tiquetaqueando desde 1386. Antes da tecnologia mecânica, todo o controle do tempo baseava-se nos ciclos do céu. Nascer e pôr do Sol e da Lua, marés, estações frias e quentes. O controle do tempo tinha o propósito prático de regular a agricultura. A necessidade de controlar o tempo é anterior à civilização, os povos nômades tinham que acompanhar as estações para determinar época de caça, de colheita, de mudança etc.
É irônico que marquemos o tempo com precisão cada vez mais acurada e, ainda assim, não prestemos atenção à vasta extensão de tempo que se estende à nossa frente. Para enfatizar esse despropósito de tempo que fluirá depois que nossa civilização se for, Danny Hills está construindo um relógio que marcará o tempo com perfeição durante cem mil anos. O seu “Clock of the Long Now” é um marcador de tempo para a falta de pensamento de longo prazo da nossa cultura. O relógio tiquetaqueará uma vez por ano, soará o gongo a cada século e o cuco sairá a cada milênio. Esse relógio reúne a melhor tecnologia digital e mecânica e terá uma precisão quase absoluta; continuará marcando o tempo muito depois de seu criador e todos nós termos morrido, é um relógio definitivo. Para muitas pessoas parece estranho que um mecanismo marque um tempo que temos dificuldade de assimilar: um tempo extremo.
Contudo, o que ressalta dessas vãs tentativas de controlar o tempo, é nossa submissão à sua transcendência, ele de nós não depende e a nós nada deve, estejamos ou não na face deste planeta azul; o tempo não espera e não apressa, não divide nem soma, não vive nem padece, a despeito de tudo ele simplesmente É. JAIR, Floripa, 24/01/10.
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Os sapatos novos da Cinderela



Sábado em sol, a Cinderela saiu de casa bem cedo. Precisava de sapatos novos. Achava que os seus, de cristal, estavam meio fora de moda.
Na loja, surpreendeu-se: sapatos de todas as cores, modelos, materiais. Xadrezes, listados, de bolinhas, floridos. Altos, baixos, médios, anabelas, escarpins, plataformas, rasteiras. Sofisticados, despojados, clássicos, modernos. Todos, muito mais confortáveis que os seus. Cristal pode ser bonito, mas não é nada macio. Fica melhor em taças.
Pediu para experimentar um. O vendedor perguntou seu número, o que ela achou estranho. Olhou para os próprios pés e respondeu, confiante: “Dois.” O moço coçou a cabeça e arriscou: “Trinta e cinco.” Corrigiu o palpite, depois de um cálculo mental: “Não. Trinta e seis. Já volto.”
Enquanto aguardava, sentou-se na poltrona em frente a um enorme espelho. Olhava para seus sapatinhos refletidos. A ideia de trocá-los soou estranha. Estava a um passo, literalmente, de uma grande mudança na sua vida. Mais uma. A primeira havia sido na noite daquele baile. Com a ajuda das suas amigas fadas, ela ganhara aqueles sapatos mágicos, feitos sob medida para seus delicados pés. Agora, eles é que estavam prestes a se encaixar no que já estava pronto, existente, disponível. Como antes, enfim. (Embora essa espécie de retorno a deixasse feliz; agora a decisão era sua. ) Notou que os sapatos de cristal estavam duramente incorporados a si, como uma extensão de seus vestidos, pernas e pés. Não entendia como conseguira dançar tanto com eles, um dia. E, apesar de desejar intensamente um sapato novo, mais alegre e mais confortável, temeu não se sentir preparada para divorciar-se deles.
O vendedor desceu as escadas da loja equilibrando uma dúzia de caixas coloridas. Desabou-as na sua frente e, experiente, foi abrindo uma por uma, retirando o pé direito de cada par e os colocando diante dela. Havia ali tudo para qualquer personagem que desejasse ser. Ao contrário dos seus, que lhe conferiam eterna nobreza e perfeição, onde quer que fosse. Falante, ele comentou qual dos modelos estava vendendo mais, citou alguns desfiles da semana de moda, fez elogios, “Mas são pés de princesa!”. A cada modelo, ela se levantava e conferia tudo no grande espelho, levemente desanimada. “Não parecem ter sido feitos por uma fada”, murmurou. “Príncipe algum seria capaz de reencontrar sua amada, assim”.
Mas Cinderela estava determinada. Fez força e simpatizou com uma sapatilha azul-céu, feita em camurça. Sem salto. Uma borboleta verde-água enfeitava-lhe o dorso, ensaiando um voo. Mandou embrulhar. Aliás, melhor: já iria com elas. Seria um bom começo para abandonar aquela aparência sofisticada, porém frágil. Não precisaria mais temer trincar tudo por conta de um passo mais firme. Só não sabia como explicaria tudo ao príncipe. Ao sair da loja, teve uma ideia. Chamou o vendedor de lado: “Posso dar uma olhadinha na seção masculina?”

(Silmara Franco- fiodameada.wordpress.com)
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Transparência...

Leve
Transparente
Límpida

assim deve ser também nossa alma!
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