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As Crônicas de Gelo e Fogo




Parece que está surgindo um novo Tolkien...segundo o New York Times.
As Crônicas de Gelo e Fogo de George R. R. Martin têm sido reputadas como a melhor saga de fantasia dos últimos 50 anos.
Não se trata, contudo, de um fenômeno de moda ou um apelo de marketing: é considerada a mais adulta, complexa, surpreendente e arrebatadora série de fantasia da atualidade, de acordo com o site www.saidadeemergencia.com.


Baixei em PDF "A Guerra dos Tronos" - um excerto - Livro I. Saboreie esse pedacinho:



— Devíamos regressar — insistiu Gared quando os bosques começaram a
escurecer em redor do grupo. — Os selvagens estão mortos.
— Os mortos assustam-te? — perguntou Sor Waymar Royce com
não mais do que uma sugestão de sorriso no rosto.
Gared não mordeu a isca. Era um homem velho, com mais de cinquenta anos, e vira os nobres chegar e partir.
— Um morto é um morto — disse. — Nada temos a tratar com os
mortos.
— Mas estão mortos? — perguntou Royce com suavidade. — Que
prova temos disso?
— Will viu-os — disse Gared. — Se ele diz que estão mortos, é prova
suficiente para mim.
Will já sabia que o iriam arrastar para a disputa mais tarde ou mais
cedo. Desejou que tivesse sido mais tarde.
— A minha mãe disse-me que os mortos não cantam — disse.
— A minha ama-de-leite disse a mesma coisa, Will — respondeu
Royce. — Nunca acredites em nada do que ouvires junto à mama de uma
mulher. Há coisas a aprender mesmo com os mortos. — A sua voz gerou
ecos, alta de mais na penumbra da floresta.
— Temos perante nós uma longa cavalgada — salientou Gared. —
Oito dias, talvez nove. E a noite está a cair.
Sor Waymar Royce olhou o céu de relance, com desinteresse.
— Isso acontece todos os dias por esta hora. Perdes a virilidade com
o escuro, Gared?
Will via o aperto em torno da boca de Gared, a ira só a custo reprimida nos olhos que espreitavam sob o espesso capuz negro do seu manto.
Gared passara quarenta anos na Patrulha da Noite, em homem e em rapaz,
e não estava acostumado a ser desvalorizado. Mas era mais do que isso. Will
conseguia detectar no homem mais velho algo mais sob o orgulho ferido.
Era possível sentir-lhe o gosto: uma tensão nervosa que se aproximava perigosamente do medo.
Will partilhava o desconforto do outro homem. Estava há quatro
anos na Muralha. Da primeira vez que fora enviado para lá dela, todas as
velhas histórias lhe tinham acorrido ao cérebro e as entranhas tinham-se-
-lhe feito em água. Era agora um veterano de cem patrulhas, e a escura e 10
infinita terra selvagem a que os sulistas chamavam floresta assombrada já
não tinha terrores para si.
Até àquela noite. Algo era diferente naquela noite. Havia naquela escuridão algo de cortante que lhe fazia eriçar os pêlos da nuca. Cavalgavam
há nove dias, para norte e noroeste e depois de novo para norte, cada vez
para mais longe da Muralha, seguindo sem desvios o trilho de um bando de
salteadores selvagens. Cada dia fora pior que o anterior. Aquele tinha sido
o pior de todos. Um vento frio soprava do norte e fazia as árvores sussurrar
como coisas vivas. Durante todo o dia, Will tivera uma sensação que era
como se algo o estivesse a observar, algo frio e implacável que não gostava
dele. Gared também o sentira. Will nada desejava com tanta força como
cavalgar a toda a brida de regresso à segurança da Muralha, mas esse não
era um sentimento que se pudesse partilhar com um comandante.
Especialmente com um comandante como aquele.
Sor Waymar Royce era o filho mais novo de uma Casa antiga com demasiados herdeiros. Era um jovem bem-parecido de dezoito anos, de olhos
cinzentos e elegante e esbelto como uma faca. Montando no seu enorme
corcel de batalha negro, o cavaleiro elevava-se bem acima de Will e Gared,
montados nos seus garranos de menores dimensões. Trajava botas negras
de couro, calças negras de lã, luvas negras de pele de toupeira, e uma cintilante cota de malha negra e flexível por cima de várias camadas de lã negra e couro fervido. Sor Waymar era um Irmão Juramentado da Patrulha
da Noite há menos de meio ano, mas ninguém poderia dizer que não se
preparara para a sua vocação. Pelo menos no que ao guarda-roupa dizia
respeito.
O manto constituía a consumação da sua glória; zibelina, espessa e
negra, suave como pele. “Aposto que foi ele próprio quem as matou a todas, ah pois aposto” dissera Gared na caserna, entre os vapores do vinho,
“torceu-lhes as cabecinhas e arrancou-as, o nosso poderoso guerreiro”. A
gargalhada fora partilhada por todos.
É difícil aceitar ordens de um homem de quem nos rimos de copo na
mão, reflectiu Will, sentado a tremer sobre o dorso do garrano. Gared devia
sentir o mesmo.
— Mormont disse-nos para os encontrarmos e encontrámos — disse
Gared. — Estão mortos. Não voltarão a causar-nos problemas. Temos uma
dura cavalgada à nossa frente. Não gosto deste tempo. Se nevar, poderemos
levar uma quinzena a regressar, e a neve é o melhor que podemos esperar.
Alguma vez vistes uma tempestade de gelo, senhor?

(continua...)
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