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Minicontos de Natal



1. CONTO DE NATAL
Alberto Carmo
A família reunida reparte pães e bênçãos. Nas ruas ninguém ao desabrigo. Em cada casa, crianças abrem presentes, adultos trocam sorrisos.
Festas humildes e festas de pompa. Casas onde a ceia é simples, outras onde os pratos se multiplicam. Em nenhuma a mesa, ou a alma, vazia.
Nas mansões, governantes e empresários, juízes e doutores, repartem a riqueza ponderada.
Nos lares menos providos, a mesa suficiente, as bocas saciadas e os corações plenos de esperança pela primeira vez.
No céu, o horizonte acorda e espera o amanhecer de um mundo novo.
O ano… Bem, cabe a nós desenhar cada número que vai formar esse dia glorioso.
Feliz Natal!
2. PEDIDO DE NATAL
Ana Peluso
Sabe, Papai Noel, nesse natal, eu queria – de verdade – que as pessoas pensassem mais nelas mesmas do que em mim. Que fossem até suas casas e se abraçassem e depois aos seus, sem medo de disfarce, cara feia por trás das costas, diz-que-disse no canto da sala; e que não se presenteassem tanto com coisas que não podem carregar para sempre (e que não fazem delas pessoas mais felizes).
E que se fizessem orações, que fosse para – antes de tudo -perdoarem-se; e que não me olhassem apenas porquê sou uma criança e é meu aniversário, mas por terem vindo até mim, depois de se aceitarem como são; e que usassem do instrumento mais poderoso que existe, que é a compreensão -caso não conseguissem.
Depois queria que brindassem com o néctar do espírito, que é o amor, olhando-se nos olhos e sendo verdadeiras. Após a ceia, elas poderiam cantar e dançar em louvor ao meu Pai, de mãos dadas, e só se separariam quando voltassem aos seus templos que é dentro delas mesmas, e é a verdadeira morada onde Ele habita.
E seria lá, que mais tarde, passado mais um ano de vida, eu buscaria meus presentes: corações puros, porém fortes, porquê o amor fortalece e a verdade purifica. Almas em paz pela certeza de que nenhum olhar foi esquivo ou superposto. Espíritos ressonando alegria pela descoberta da certeza de que a vida se eleva, nunca cai.
E semblantes tranqüilos de quem já descobriu a verdade. Ela é nela que EU SOU.
Ass: Menino Jesus
3. A MAGIA DO NATAL
Argento
“Lembranças antigas de natal,
sonhos, fantasias de criança.
Passar a noite sem dormir,
esperando Papai Noel chegar.”
Todo ano a magia se renovava. A vila inteira esperava com um misto de apreensão e alegria a chegada dele. Aquilo era na verdade um espetáculo único, os olhos das crianças brilhavam e todos aguardavam ansiosos a chegada do bom velhinho.
Mal ele surgia no início da rua e a molecada ficava eufórica, ele trazia os presentes, um sorriso e principalmente aquelas palavras de sabedoria. Todos agradeciam e prometiam que iam se comportar melhor no ano seguinte, que iam respeitar os país, os avós e tratar seus irmãos e amigos com carinho evitando brigas e confusões.
Num certo dia porém, aconteceu o inesperado. Quando nosso bravo Papai Noel foi conversar com uma garotinha linda de três anos de idade:
- Oi, menininha. Você se comportou direitinho esse ano?
- Sim, cadê minha boneca de pano papai?
- Papai Noel trouxe ela sim, ta aqui!
- Papai Noel que nada! Você é o meu pai!
- Quê isso? Sou o Papai Noel em carne e osso!
- Então chega aqui pertinho de mim, vai!
- Num falei, você ta usando os óculos do papai e essa barba falsa!
Puxou a barba do bom velhinho que ficou desconcertado. No final os dois se abraçaram, choraram e sorriram juntos.
A magia, não foi porém quebrada. Aquele bom homem ainda passou vários natais se vestindo naquele traje especial, transmitindo amor e paz pelos corações daquelas privilegiadas crianças.
(*) Em memória do meu tio Armando, o melhor “Papai Noel” que já tive.
4. NATAL OUTRA VEZ
Bárbara Helena
Sei que é Natal porque sinto o cheiro das castanhas assadas na varanda da memória. Passam carros ao longe, carruagens, carroças, foguetes.
Posso ouvir o sussurro das folhas do pinheiro. E as pessoas que cantam, o som agudo das flautas infantis. De longe vem o cheiro de canela das rabanadas, do vinho, da champanhe estourando em torno de mim.
Sim. É Natal outra vez.
Então, eu atravesso a sala com meu vestido de lua, pego sua mão que me enlaça e me estreita, beijo sua boca de mistérios.
Dançamos o Natal, as festas, o Ano Novo. Dançamos a esperança.
Somos todos os reis, os bispos, as rainhas. Somos todos peões da nossa fantasia.
É Natal outra vez, ainda.
5. ENCOMENDA ERRADA
Beto Muniz
Pediu um cachorro pro papai Noel.
Enviou cartinha para o pólo norte e teve o zelo de procurar envelope impermeável, apesar do cuidado em utilizar caneta com tinta especial: “sabe-se lá se as cartinhas não ficam úmidas com aquele tantão de neve”.
Nas vésperas do natal estava feliz, primeira confraternização em seu primeiro emprego. Recepcionista, mas só fazia atender ao telefone: “não importa, todos começam por baixo e vão crescendo”. Só ela não crescia, permanecia menina no corpo de mulher, e foi na festa, brindando com os colegas, que descobriu o olhar faminto de Aristeu, cão sem dono.
A cartinha chegara intacta às mãos do Papai Noel. Nenhum borrão nas letrinhas redondinhas de menina-moça. Uma pena.
6. CONTINHO DE NATAL
Daisy Melo
Solidão é coisa conhecida e ela está sozinha a maior parte do tempo.
Mas arruma a árvore com aqueles enfeites de quando as crianças eram pequenas e prepara a ceia.
Veste o vestido vermelho que usou naquele dia especial, há tanto tempo. Perfuma o pescoço, coloca o brinco, se olha no espelho. Está linda.
Enquanto espera os filhos e os netos, escreve uma poesia e faz um pedido para a estrela cadente que passa veloz através da sua noite: só deseja paz.
Todo o resto que precisa virá finalmente, com esse Natal diferente.
7. CARTA PARA PAPAI NOEL
Emília Maria Martins Lopes
“Querido Papai Noel
Não quero nada para mim, mas gostaria que realizasse um desejo. Não sei se é possível. Já me disseram que é besteira, que estou sonhando, mas mesmo assim vou tentar:
Queria que no mundo houvesse uma coisa especial porque acredito que com isso as pessoas não brigariam, não passariam fome, não roubariam, não matariam, não discutiriam e, principalmente, voltariam a sonhar.
Só peço para que haja, entre todas as pessoas, mais Respeito.
Se puder me atender, eu agradeço do fundo do meu coração.
Acredito que de ilusão também se vive.
8. PRESENTE DE NATAL
Ivone Carvalho
Esperava o bebê para o final do mês. Como toda mãezinha, aguardava com ansiedade sua chegada, mas estava feliz por saber que passaria o Natal com a família, como todos os anos.
Preparou a festa, decorou a casa, colocou os presentes sob a árvore, arrumou a mesa com pratos deliciosos. Vestiu-se e recebeu os convidados. A família toda reunida, música alegre, risos, fotos. Uma contração. Duas, muitas. Foi levada para a maternidade. À meia noite, enquanto todos brindavam em sua casa, ela ouvia o mais terno e divino choro, que fez seus lábios repetirem, entre lágrimas, que Natal é Vida!
9. NATAL BRANCO
Leila Barros
Na minha lista de presentes, vou acrescentar:
Um Natal branco, sem neve, só a alvura das almas e do algodão doce e nos telhados uma garoinha de coco ralado.
Vou querer um Natal de plumas de anjos e também de seres reais, com os quais eu possa trocar abraços e ideais, poesias e rabanadas!
Há de ser um natal branco de açúcar cristal, com anjos de meia asa a assoviar.
Quero sentir os aromas dos fornos alheios, guarnecidos de compaixão e calor.
Desejo estrelas moídas para salpicar em todos meus amores, amigos e seres afins…
Há de ser um Natal dente de leite…
Branquinho assim…
10. ÁRVORE COLORIDA
Luís Valise
Família reunida, barulho, risadas, crianças correndo pela casa, Feitosa adorava as noites de Natal. A bebida estampava em negrito o espírito cordial e fraterno que juntava aquelas pessoas todos os anos. Durante o ano mal se viam ou falavam, mas na noite de Natal os corações transbordavam alegria e contentamento.
Depois que os presentes foram abertos, Feitosa olhou a cunhada e foi para os fundos. Logo chegou Anita, bochechas vermelhas, olhar radiante. No escuro do quintal, atrás de um pé de jaboticaba, suas bocas se encontraram. Sobre o telhado, atrás da chaminé, Papai Noel ajeitou o saco vermelho e pesado:
- Isso ainda vai dar merda.
11. CONTO DE (PRÉ) NATAL
Raymundo Silveira
Joana já se encontrava no sexto mês de gravidez e estava muito inchada. Saiu de casa, às duas da madrugada a fim de não perder a ficha para a primeira consulta pré-natal. Antes, já havia tentado, mas nunca houve vagas. Ainda assim teve de pagar cinco “contos” a um guardador de lugar na fila. Tentou dormir um pouco, mas o frio, o medo e a dureza do chão a impediram.
Às sete da manhã, um vigia entreabriu a porta principal e avisou: “Atenção! Todas as gestantes têm de remarcar nova consulta para depois de amanhã. Hoje é dia da confraternização natalina dos funcionários deste Posto e amanhã será feriado.
12.ATÉ UMA CRIANÇA ENTENDE
Thaty Marcondes
- Mãe, me leva no shop?
- O dinheiro mal dá pra comer e você quer ir ao Shopping? Tá maluca, menina?
- O Papai Noé tem dinelo!
- O Papai Noel, seu pai, sua mãe, todo mundo tá sem dinheiro! E o Lula, que foi pobre também, proibiu presentes este ano! Natal é pra ir à Igreja rezar pro Menino Jesus que vai nascer, bem pobrezinho, lá longe! Pronto. Entendeu agora?
- Num tendi nadica de nada! O Papai Noé tem dinelo puqui tabáia no shop, sua boba! Num vô pidi a buneca pá ele puqui ele tem di dá lopinha pu nenê Jesus! Eu tloco a boneca pela olação, tá? Ele é velinho: num paga ôminus, né? Faiz um bolinho pá ele levá na viage?
13. CARTA DE UM ANJO
Thaty Marcondes
O anjo acordou triste, ao ver tantas crianças e mães lacrimosas, com o Natal se aproximando.
Arrancou uma pena da asa esquerda. Doeu – menos do que doía aquela tristeza – e sangrou um pouco. Aproveitou e escreveu uma carta, com a pena molhada no sangue do ferimento:
- Senhor, deixa-me ajudar a aliviar o sofrimento destas pessoas tão tristes, tão desafortunadas. Que um sorriso se estampe em seus rostos magros, que a alegria paire, ao menos, neste Natal!
As crianças não entenderam muito bem aquele Papai Noel que apareceu na favela: tinha asas e trazia, além de brinquedos, muita comida gostosa!
14. UM CONTO DE NATAL
Vera Vilela
A menina olha o céu, vê uma estrela e aperta em sua mão – a cartinha que escreveu para o barbudo – aquele que viu na televisão da vizinha e pede:
- Senhor Barbudo! Quero uma bicicleta, pra passear com meu pai. Desce para sua casa e dorme.
No sonho o Senhor Barbudo chega numa carroça puxada por cavalos e entrega a sua bicicleta.
Amanhece.
Ela corre até o portão e vê o pai sair de maca de uma ambulância.
- Foi atropelado com sua bicicleta. O dono do carro deu esta caixa de presente, é para a menina. Afinal hoje é Natal.
Era uma bicicleta.
O pai não mais andou. A bicicleta foi vendida, a menina nunca a usou.
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