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O Tempo



Meus leitores já devem ter percebido que o tempo, com todas suas implicações, é tema recorrente em muitos de meus textos. Ora ele se apresenta em torno de relógios que tentam aprisioná-lo em seus ponteiros e dígitos; ora ele aparece na forma de poesia que o admira em sua perpetuidade e imparcialidade; ora ele é tratado como uma entidade viva que permeia os desvãos de todas as coisas e das atividades humanas. No dia-a-dia o tempo é igual para todos, acomete tudo e todos sem distinção; corrói o metal, degrada o seres vivos, eleva montanhas, seca oceanos e permanece imutável não obstante tencionarmos escravizá-lo colocando rótulos: segundos, minutos, meses, séculos etc. Contudo, é ele que nos escraviza, é um tirano implacável que não se comove com o drama da vida. A tirania do tempo é um fenômeno de nossa era, tão arraigado e presente que raramente pensamos a respeito. Mantemos o tempo em nosso pulso, nas paredes, em locais públicos, torres de igrejas e em todo local que estejamos.
Os relógios os quais decoram o pulso de todas as pessoas, de autoridades a gente comum, podem ter um mecanismo de mola que impulsiona os ponteiros ou um cristal minúsculo que oscila tão precisamente em reação a um impulso elétrico que ele nem adianta ou atrasa mais do que alguns segundos por ano. Os relógios eletrônicos, esses a bateria, são um milagre da tecnologia que passa despercebido; são aparelhos 99,9999 % exatos e ainda assim costumam ser tão baratos que podem ser descartáveis. A história do relógio atual está ligada aos primeiros aparelhos mecânicos para controle do tempo durante a época elisabetana com o propósito da navegação em longas travessias oceânicas.
Antes disso, Galileu, ainda um jovem estudante sentado na catedral de Pisa, ao invés de prestar atenção na missa, notou a oscilação de um grande lustre suspenso. Usando o próprio pulso como cronômetro, Galileu notou que o lustre parecia levar o mesmo tempo para percorrer um grande arco como para percorrer um arco menor. Essa observação lhe sugeriu uma lei: O tempo necessário para que um pêndulo realize uma oscilação independe da amplitude da oscilação. Nasceu aí o conceito do relógio de pêndulo.
Durante a Idade Média e o Renascimento, os mestres relojoeiros eram artesãos de elite e as principais cidades da Europa disputavam seus talentos quando visavam adquirir o símbolo de status de uma torre com relógio. O mais antigo relógio ainda funcionando encontra-se na catedral de Salisbury na Inglaterra, está tiquetaqueando desde 1386. Antes da tecnologia mecânica, todo o controle do tempo baseava-se nos ciclos do céu. Nascer e pôr do Sol e da Lua, marés, estações frias e quentes. O controle do tempo tinha o propósito prático de regular a agricultura. A necessidade de controlar o tempo é anterior à civilização, os povos nômades tinham que acompanhar as estações para determinar época de caça, de colheita, de mudança etc.
É irônico que marquemos o tempo com precisão cada vez mais acurada e, ainda assim, não prestemos atenção à vasta extensão de tempo que se estende à nossa frente. Para enfatizar esse despropósito de tempo que fluirá depois que nossa civilização se for, Danny Hills está construindo um relógio que marcará o tempo com perfeição durante cem mil anos. O seu “Clock of the Long Now” é um marcador de tempo para a falta de pensamento de longo prazo da nossa cultura. O relógio tiquetaqueará uma vez por ano, soará o gongo a cada século e o cuco sairá a cada milênio. Esse relógio reúne a melhor tecnologia digital e mecânica e terá uma precisão quase absoluta; continuará marcando o tempo muito depois de seu criador e todos nós termos morrido, é um relógio definitivo. Para muitas pessoas parece estranho que um mecanismo marque um tempo que temos dificuldade de assimilar: um tempo extremo.
Contudo, o que ressalta dessas vãs tentativas de controlar o tempo, é nossa submissão à sua transcendência, ele de nós não depende e a nós nada deve, estejamos ou não na face deste planeta azul; o tempo não espera e não apressa, não divide nem soma, não vive nem padece, a despeito de tudo ele simplesmente É. JAIR, Floripa, 24/01/10.

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